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O mundo depois de nós, entenda o filme da Netflix

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Alerta de spoiler: Esta análise contém detalhes sobre o enredo do filme ‘O mundo depois de nós’ da Netflix.

O filme ‘O mundo depois de nós’ foi lançado em 8 de dezembro de 2022 na Netflix, e desde então tem dado o que falar. Mas afinal, sobre o que é o filme? Quem está causando os eventos bizarros que acontecem e causam pânico nos personagens? Qual a explicação para o final dessa história? Fizemos este artigo com algumas e explicações e teorias para te ajudar a entender o filme “O mundo depois de nós”.

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O filme ‘O Mundo Depois de Nós’ é um suspense apocalíptico baseado em um livro de mesmo nome, escrito pelo autor americano Rumman Alamm. Embora a versão cinematográfica, dirigida por Sam Esmail, faça algumas alterações, especialmente no desfecho, o autor e o produtor executivo do filme afirmaram que essas mudanças são emocionalmente fiéis à obra original.

O mundo depois de nós, entenda o filme da Netflix foto de divulgação

Análise – Entenda o filme o mundo depois de nós

Para fazer uma análise sobre este filme primeiramente devemos lembrar que ele tem uma narrativa incerta, que levanta diversas dúvidas e questões sem oferecer uma resposta conclusiva. O próprio autor do livro que deu origem ao filme, concedeu uma entrevista a revista americana Variety, e revelou que gosta de deixar dúvidas e dualidades no ar para intrigar o leitor/expectador. Portanto, podemos refletir, conjecturar e teorizar sobre o simbolismo do filme, mas não chegaremos a uma resposta conclusiva, pois o próprio autor não concebeu a história como um arco fechado. Ele apenas faz críticas sociais e levanta questões para que possamos refletir sobre elas.

Agora, ao analisar as duas primeiras cenas do filme, já podemos identificar muitos elementos reveladores sobre os personagens e as relações entre eles. Vamos analisar cada uma dessas cenas a seguir.

A contradição humana

O filme inicia com um diálogo entre Amanda e Clay, um casal que mora em um apartamento em Nova York junto com seus dois filhos, Rose e Archie. Amanda, interpretada por Julia Roberts, informa ao marido que acordou naquela manhã e decidiu marcar um passeio para a família, em uma cidade próxima de Nova York, mas afastada o bastante para não ficar próxima a outras pessoas. Nesse momento, em um breve monólogo, a personagem revela seu desprezo pela humanidade e comunica ao espectador que odeia pessoas.

A personagem caminha até a janela e diz: “Quando perdi o sono esta manhã, vim até aqui, assisti o sol nascer e vi todas essas pessoas, começando o dia com tanta tenacidade e entusiasmo. Todas empenhadas em transformarem a si mesmas. Transformar nosso mundo. Eu me senti tão sortuda por fazer parte disso. Então, lembrei como o mundo realmente é, e cheguei a uma conclusão mais precisa: eu odeio mesmo pessoas!”

Essa fala logo de cara gera antipatia com a personagem, mas ao mesmo tempo gera identificação; afinal, a maioria de nós já se sentiu com vontade de fugir para um lugar bem longe da ignorância de outras pessoas. A personagem Amanda tem essa constante dualidade, apresentando comportamentos desprezíveis e ignorantes, mas ao mesmo tempo nos reconhecemos em algumas de suas atitudes. Amanda é uma representação da contradição humana. Ela odeia pessoas por serem péssimas, mas ela mesma, em outros momentos do filme, tem comportamentos detestáveis, racistas, e é orgulhosa e pretensiosa.

Distanciamento

Na cena seguinte, a família já está dentro do carro, viajando em direção à casa alugada por Amanda. A primeira observação que salta aos olhos é que, apesar de estarem todos fisicamente próximos, dentro de um carro em movimento, cada membro da família está imerso em seu próprio mundinho particular. Amanda, por exemplo, fala ao telefone com sua irmã, informando-lhe que decidiram alugar uma casa, afastada da cidade e das pessoas. Enquanto isso, seu marido Clay, interpretado por Ethan Hawke, conduz o carro enquanto escuta música. Os filhos do casal, por sua vez, ocupam o banco de trás: Rose, a filha mais nova, assiste à série Friends em seu tablet, enquanto o adolescente Archie está mergulhado em um jogo de guerra no celular.

Essa segunda cena já tem um peso e uma crítica à nossa sociedade. Representa o distanciamento das famílias, mas também da própria sociedade, na qual a maioria de nós passa mais tempo interagindo com equipamentos eletrônicos do que com outras pessoas. O distanciamento entre as pessoas enfraquece os laços entre elas e, com o tempo, acaba por criar um distanciamento que contribui para que exista menos empatia.

É interessante que a segunda cena do filme introduz cada personagem junto com a tecnologia que cada um usa como escape. Durante o filme, nos damos conta de como cada personagem fica dependente dessa tecnologia, de modo que, ao se verem sem ela, entram em pânico, entram em crise, se sentem solitários, entediados ou desorientados.

 

Reflexões raciais e culturais no filme o mundo depois de nós

O filme também nos convida a refletir sobre a questão do preconceito racial e cultural.

Na primeira noite da família na mansão alugada, um estranho bate na porta junto com sua filha. Esse estranho afirma ser George Scott, dono da casa, e pede para dormir no local, pois estaria acontecendo um blackout na cidade de Nova York. George é um homem negro, e diante disso, a personagem Amanda exibe atitudes e falas extremamente racistas.

Caso George Scott e sua filha fossem pessoas brancas, é difícil imaginar que Amanda os trataria com tanta desconfiança e desdém. Desse modo, o filme nos provoca a refletir sobre a posição do negro na sociedade. Por mais que exista igualdade formal, continua havendo muita desigualdade material. Pessoas pretas continuam sendo colocadas à margem, de modo que um homem negro extremamente rico e bem-sucedido causa estranhamento a um casal de classe média.

Mesmo não demonstrando uma postura racista em relação a George, em outra cena, Clay dá indícios de ser tão preconceituoso quanto sua esposa. Em uma cena, ele se depara com uma mulher de origem latina desesperada pedindo ajuda. Entretanto, demonstrando desconfiança e falta de empatia pela mulher, Clay foge, abandonando-a no meio do nada.

Essa cena nos leva a refletir sobre a maneira como os americanos lidam com imigrantes provenientes de países pobres, muitas vezes relegando-os a uma condição de cidadãos de segunda classe.

Em um momento posterior, o personagem reflete sobre a própria atitude e não consegue entender o que o fez agir daquela forma. Esse exercício do personagem levanta uma reflexão sobre a tendência humana de agir de forma irracional em situações de caos e desorientação.

Dependência tecnológica, ataque cibernético

Durante o filme, diversos eventos estranhos ocorrem. Alguns desses eventos estão relacionados à interrupção das comunicações: os celulares ficam sem sinal, as televisões perdem a transmissão e a internet não se conecta. Em decorrência disso, somos levados a refletir sobre a dependência que desenvolvemos em relação às tecnologias.

Os personagens ficam completamente desorientados sem os recursos tecnológicos. Clay tenta ir à cidade em busca de informações, mas sem GPS, fica completamente perdido na estrada. Rose, ansiosa para assistir ao final de sua série favorita, não consegue pensar em outra coisa. Sem sinal de celular para contatar seus familiares, Amanda começa a imaginar que todos que ela conhece podem estar mortos. George vai buscar informações na vizinhança e descobre que aviões estão caindo devido ao ataque cibernético que estava deixando os pilotos sem recursos de navegação.

O filme oferece uma experiência imersiva ao observarmos a crise provocada pelo colapso das tecnologias nos personagens. Isso nos faz refletir sobre a dependência que desenvolvemos em relação às tecnologias. Como ficaríamos se, num estalar de dedos, toda a tecnologia parasse de funcionar? E se de repente não conseguíssemos nos comunicar com nossa família que está distante? Como nos localizaríamos em locais desconhecidos sem GPS? Como lidaríamos com o tédio e a solidão sem os jogos de computador e os programas de TV? Essas são reflexões que o filme propõe.

Guerra civil

Quase no final do filme “O mundo depois de nós”, George implora ajuda a seu amigo Danny, que se recusa a ajudá-lo e chega a ameaçá-lo com uma arma. Chocado com o comportamento de Danny, que costumava ser seu amigo, George se convence de que sua teoria sobre os estranhos acontecimentos é de fato real e, então, a compartilha com os demais. George revela que um de seus clientes no mercado financeiro era uma pessoa muito importante, responsável por analisar o custo-benefício de campanhas militares para o Pentágono

George relata que esse cliente lhe falou sobre um dos planos que analisou e que o deixou particularmente preocupado. Esse plano consistia em uma estratégia para derrubar o governo de um país por meio de três etapas. A primeira consistia em provocar o isolamento das pessoas pela interrupção da comunicação e do transporte. A segunda era aterrorizar as pessoas por meio de ataques e desinformação, deixando os sistemas e armas vulneráveis a extremistas e aos próprios militares. Dessa forma, sem um motivo claro para o caos, as pessoas começariam a se voltar umas contra as outras, resultando na terceira fase: uma guerra civil. Esse plano era considerado a maneira mais eficaz de desestabilizar um país, pois as pessoas fariam o serviço por conta própria.

A partir dessa revelação de George, podemos refletir novamente sobre a nossa dependência em relação à tecnologia. Será que perdemos nossas habilidades sociais a ponto de uma interrupção na comunicação e nos transportes ser capaz de provocar uma guerra civil? Nossas relações se tornaram tão superficiais e artificiais a ponto de amigos se tornarem inimigos rapidamente? Nossas estruturas sociais e governamentais são tão frágeis que não poderiam conter esse tipo de ataque?

Teorias sobre a origem dos ataques

George relata a existência de uma estratégia militar para desestabilizar um país, mas não deixa claro exatamente quem poderia estar por trás dos ataques. A menção ao Pentágono levanta a teoria de que poderia ser um ataque interno. No entanto, o filme não oferece nenhuma justificativa para essa possibilidade. Resta a nós teorizar que poderia ser um ataque organizado em virtude de interesses econômicos, políticos ou ideológicos de algum grupo específico.

Por outro lado, poderia também ser um ataque externo. George não deixa claro se aquela estratégia militar foi desenvolvida exclusivamente para o governo dos EUA. Ao que sabemos, o amigo de George poderia estar analisando uma tática militar conhecida e estudada por outros países. Portanto, não dá para descartar a hipótese de um ataque externo.

Por fim, compartilho uma teoria um pouco mais “maluca”. Atualmente, existe um debate sobre o alcance da inteligência artificial, a possibilidade de as inteligências artificiais, cada vez mais desenvolvidas e independentes, se rebelarem contra seus criadores. Portanto, nessa teoria o ataque estaria sendo coordenado por inteligências artificiais. Um dos indícios dessa teoria é que o ataque utiliza os recursos tecnológicos como arma. Além do apagão cibernético que interrompe as comunicações, outras duas cenas poderiam embasar essa teoria.

A primeira cena é aquela em que Clay é surpreendido na estrada por um drone que está jogando panfletos. A segunda é a intrigante cena em que Amanda tenta retornar para a cidade com a família, mas se depara com a situação bizarra de carros autodirigíveis causando acidentes e engarrafamentos. Em ambas as cenas, o agente do caos é uma tecnologia autodirigível; tanto o drone quanto os carros da Tesla estão sendo comandados remotamente. Desse modo, seria possível que uma inteligência artificial estivesse por trás dos ataques, em um ato de rebelião. Afinal, tecnologia não é um dos temas centrais desse filme? Logo, não seria plausível admitir que o filme gira em torno de um avanço tecnológico fora do controle?

Fatos estranhos – Animais selvagens

O aparecimento dos cervos e flamingos pode ser uma referência ao período de isolamento social durante a COVID-19. Durante o isolamento social de 2020, um fenômeno parecido com esse foi registrado em alguns locais. No Japão, veados começaram a aparecer pelas vilas; na Tailândia, os macacos dominaram as ruas; e em algumas regiões da Itália, javalis selvagens foram flagrados circulando pelas cidades. Veja os registros:

 

 

Portanto, uma primeira explicação para o aparecimento dos animais selvagens no filme é que eles sejam uma referência a esses fatos que ocorreram durante a pandemia. Assim, pode haver uma simbologia da natureza reavendo seus espaços; enquanto o homem sucumbe, a natureza se regenera.

Cervos

Em algumas culturas, os cervos são símbolos de ciclos de vida, renovação e regeneração, pois seus chifres se regeneram anualmente. Por serem animais sempre atentos ao seu redor, também são considerados símbolos de intuição, sensibilidade, alerta e vigilância. Além disso, devido à sua aparência delicada e movimentos graciosos, eles são associados à inocência e pureza.

Portanto, no filme, o aparecimento de centenas de cervos pode ser uma simbologia para representar uma situação de alerta e também um ciclo que se encerra. O filme vai aos poucos revelando que o mundo está passando por uma transformação e um ataque ou invasão. Então a população está assustada e encurralada como um cervo diante do caçador. Assim como um cervo, que não sabe de onde vem a bala que fere seu coração, no filme, a população não sabe o que está acontecendo e quem está por trás dos ataques.

Flamingos:

Por sua vez, por confiam em suas habilidades de navegação e sobrevivência, muitas vezes migrando longas distâncias, flamingos são interpretados com símbolos de fé, confiança e determinação para enfrentar desafios. Além disso, em algumas culturas, a cor rosa dos flamingos é associada à esperança e à renovação. Desse modo, a chegada dos flamingos na piscina da mansão onde as famílias estão abrigadas durante o ataque pode representar uma mensagem de esperança para as famílias que estão na casa. Afinal, apesar de estarem em meio a uma crise, os personagens estão em segurança e encontrando possíveis meios de sobrevivência.

Por outro lado, a presença de flamingos em ecossistemas aquáticos é muitas vezes vista como um indicador de saúde ambiental. Então, talvez a simbologia dos flamingos no filme esteja relacionada justamente com a nossa ideia inicial, da natureza se renovando e retomando seus espaços enquanto o ser humano sucumbe.

Não dá para saber exatamente qual a intenção do autor do livro e do diretor do filme quando introduz os animais na narrativa. Mas é interessante observar que esses elementos simbólicos tem múltiplas interpretações possíveis.

Final explicado, entenda o final do filme “o mundo depois de nós

O filme gira em torno da dúvida e incerteza, logo o final não seria diferente. O final do filme deixou muitas pessoas perplexas e sedentas por respostas. A verdade é que isso é intencional. O livro que deu origem ao filme termina com um ponto de interrogação, e essa é justamente a sensação que fica com o filme. Muitas questões ficam sem uma resposta definitiva. O que aconteceu com a esposa de George? A família de Amanda está bem? Quem está coordenando os ataques? Porque animais selvagens estão aparecendo? Os personagens irão sobreviver a esse cenário apocalíptico? A verdade é que não há uma resposta, e isso é intencional. Na entrevista à revista Variety, que mencionamos no início deste artigo, o autor do Livro, Rumman Alamm, dá a entender que levantar questionamentos e intrigar o leitor era um dos propósitos da história.

Quanto à cena final em que Rose encontra um bunker em uma das mansões desertas da vizinhança e finalmente consegue assistir ao episódio final da série “Friends”, não há muito mistério. Rose passou a maior parte do filme falando o quanto aquilo era importante para ela. A personagem é muito solitária, não consegue se comunicar e se conectar com a própria família. Assim, os personagens da série fazem literalmente o papel de “friends”, se tornando os amigos e conexões que ela não tem na vida real.

Essa cena nos convida novamente a refletir sobre nossa própria solidão e nossas próprias relações pessoais. A maioria de nós já foi como Rose em algum momento, procurando um escape em filmes, séries ou outras formas de entretenimento. Rose estava ansiosa para assistir ao final de Friends, assim como eu e você, que ficamos intrigados tentando entender o desfecho deste filme e nos questionando o que acontecerá com aqueles personagens. De certa maneira, não somos eu e você como Rose, preocupados em saber o final de personagens fictícios, enquanto o mundo dá sinais apocalípticos?

 

É isso aí pessoal!

Tentamos fazer uma análise completinha sobre o filme “O mundo depois de nós” para tentar jogar uma luz sobre algumas dúvidas deixadas por esse filme. Envie esse artigo para sua família e seus amigos que também ficaram sem intrigados com o final do filme O mundo depois de nós. Aproveita que já está por aqui e veja outros artigos do nosso Blog. Até breve!