Farofa de Pinhão, nossa receita de família com o gostinho da roça

Sou da roça e me mudei para cidade grande há um bom tempo. Aqui já ouvi de alguns colegas e amigos dizerem que não gostam de pinhão, que acham sem graça e difícil de descascar. Eles até podem estar cestos sobre a parte de ser chato de descascar, mas toda vez que escuto que pinhão não tem graça penso “você só está dizendo isso porque nunca comeu a farofa de pinhão da minha família”.

O pinhão é super especial para mim, quando penso nesse alimento recordo da minha infância, das horas que passei com minha família ou amiguinhos em baixo dos pinheiros juntado pinhões. Recordo das fogueiras que fazíamos com as grimpas da araucária para sapecar os pinhões rapidamente no fogo. Também recordo dos meus avós e dos dias de inverno que passávamos em torno do fogão a lenha nos aquecendo e comendo pinhões. Portanto, na minha família, assim como em muitas outras acredito, o pinhão não tem um valor não apenas gastronômico mas também emocional e reconfortante.

Além disso, na minha família temos uma receita antiga, e muito saborosa que chamamos de farofa ou paçoca de pinhão. Desde que me conheço por gente, meus pais faziam essa receita, principalmente para comermos no café da manhã, e agora irei compartilha-la com você, porque acho que todo mundo deveria experimentar essa delícia.

História da farofa de pinhão

Antigamente meu avô e meu pai costumavam trabalhar com invernadas de gado. Isso quer dizer que eles costumavam levar o gado para pastagens afastadas, e que eles costumavam acampar nesses locais por algum tempo. Meu pai me contou que nessa época eles costumavam catar os pinhões da mata, e utiliza-los para preparar refeições. Assim, eles cozinhavam o pinhão e depois moíam em um pequeno pilão. Depois temperavam e comiam essa farofa com charque (carne seca). E foi assim, que no interior do interior de Santa Catarina, a cerca de uns 70 anos atrás, que meu avô começou a desenvolver essa receita. Ao longo dos anos desenvolvemos, acrescentamos ingredientes e fizemos adaptações e modificações no modo de preparo dessa receita, até ela chegar no que é hoje.

Receita

Já conhecemos algumas pessoas e famílias que também fazem pratos e receitas com pinhão. Entretanto, a maioria dessas receitas utiliza o pinhão inteiro, misturado com carne ou arroz. O diferencial dessa receita de família, é que ela é feita com pinhão amassado, moído ou batido no liquidificador (Antigamente meu avô e meu pai usavam um pilão, mais tarde passaram a usar um moedor de carne, e atualmente usamos o liquidificador para transformar o pinhão em uma farofa). O pinhão moído, fica mais pequeno e macio, e desta maneira mais fácil de comer. Além disso, o pinhão tem uma espécie de película que envolve a semente, desse modo, ao moer o pinhão você facilita que esse ele absorva melhor o sal e o sabor dos temperos, deixando a receita muito mais saborosa. Então agora vamos ao ingrediente e ao passo a passo:

Modo de fazer

• Cozinhe todo o pinhão, espere esfriar e descasque.
• Bata o pinhão no liquidificador até obter uma farofa. (você pode deixar a farofa mais fina ou um pouco mais grossa de acordo com sua preferência)
• Reserve a farofa e pique o salame em cubinhos pequenos (caso optar por fazer a receita com carne moída cozinhe a carne.
• Pique a cebola, e o tomate.
• Em uma panela coloque um pouco de óleo e refogue a cebola com o salame ou carne de sua preferência.
• Quando a cebola estiver refogada e a carne levemente dourada acrescente 50 ml de água e o tomate picado.
• Deixe a água secar um pouco e quando o molho estiver grosso acrescente o pinhão moído.
• Mexa até misturar o molho com o pinhão.
• Acrescente o cheiro verde e sal a gosto.
• Deixe os ingredientes no fogo por cerca de 5 minutos, até perceber que o pinhão está soltinho como uma farofa.
• Sirva ainda quente ou morno.

Esta receita especial de farofa de pinhão, criada com carinho por meu avos e aperfeiçoada ao longo do tempo, transcende simples ingredientes para representar uma herança familiar viva. Cada pinhão traz consigo não apenas um sabor único, mas também a história de gerações reunidas em torno da mesa. Ao compartilhar esta receita, passamos adiante não apenas um prato delicioso, mas também a rica tradição de nossa família. Que cada colherada desta farofa continue a evocar lembranças de amor, conexão e alegria. Espero que você tenha gostado de conhecer essa nossa receita, experimente essa delícia, e também se apaixone por ela.

Versão vegana da farofa de pinhão

Como mencionei acima é possível adaptar a receita para atender pessoas veganas. Se você ou algum familiar é vegano, basta substituir a carne por tomates cereja confitados por exemplo. O tomate é macio e suculento e o molho do tomate bem temperado é a mistura ideal para a farofa de pinhão. Com toda a sinceridade do mundo, minha boca simplesmente salivou enquanto eu escrevia esse parágrafo, só de lembrar do gostinho do tomate na farofa de pinhão.

Você sabe o que é uma Sapecada de pinhão?

Como já mencionei, uma das minhas melhores lembranças de infância é sapecar pinhões em uma fogueira de grimpas. Essa é uma técnica de preparo do pinhão conhecida como “sapecada de pinhão”.

A sapecada de pinhão é uma técnica culinária regionalmente popular no sul do Brasil, especialmente no Paraná e Santa Catarina. Consiste em colocar os pinhões, sobre as grimpas da araucária e atear fogo por poucos minutos. Isso deixa o pinhão torradinho, levemente crocante por fora e macio por dentro. O fogo deixa a casca do pinhão quebradiça e faz com que fique mais fácil de descascar a semente. A sapecada de pinhão é mais uma maneira maravilhosa de preparar o pinhão, que é nossa iguaria do sul.

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