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Um incrível poema de Pablo Neruda para quem ama gatos

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Gatos são animais fascinantes, curiosos, ora mais brincalhões, ora mais reflexivos. São afetuosos e se movimentam com agilidade e graça. A pelagem macia, os olhos penetrantes e profundos desses felinos conquistam muitos admiradores. Se você, assim como eu, ama os gatos, o poema “O gato” de Pablo Neruda irá te cativar.

O poema “Ode ao Gato” de Pablo Neruda, parte de sua obra Odas Elementales de 1954, é um exemplo notável da capacidade do poeta em personificar elementos da natureza e do cotidiano com uma profundidade emocional única. Neste poema, Neruda retrata o gato como um ser misterioso e sensual, capturando sua graça felina e seu comportamento independente. A linguagem utilizada é rica em imagens sensoriais, evocando a suavidade do pelo do gato, seus movimentos elegantes e seu olhar enigmático. Além disso, o poema explora temas como a solidão, o desejo e a conexão emocional, refletindo a intensidade dos sentimentos humanos através da figura do animal. A habilidade de Neruda em dar voz e profundidade a um objeto aparentemente simples como um gato é uma das marcas de sua genialidade poética, que continua a fascinar leitores ao redor do mundo.

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Veja este vídeo fofo de um senhor lendo um trecho do poema:

Agora veja o poema na íntegra, na versão original em espanhol e na versão traduzida para o português:

ODA AL GATO

Los animales fueron
imperfectos,
largos de cola, tristes
de cabeza.
Poco a poco se fueron
componiendo,
haciéndose paisaje,
adquiriendo lunares, gracia, vuelo.
El gato,
sólo el gato
apareció completo
y orgulloso:
nació completamente terminado,
camina solo y sabe lo que quiere.

El hombre quiere ser pescado y pájaro,
la serpiente quisiera tener alas,
el perro es un león desorientado,
el ingeniero quiere ser poeta,
la mosca estudia para golondrina,
el poeta trata de imitar la mosca,
pero el gato
quiere ser sólo gato
y todo gato es gato
desde bigote a cola,
desde presentimiento a rata viva,
desde la noche hasta sus ojos de oro.

No hay unidad
como él,
no tienen
la luna ni la flor
tal contextura:
es una sola cosa
como el sol o el topacio,
y la elástica línea en su contorno
firme y sutil es como
la línea de la proa de una nave.
Sus ojos amarillos
dejaron una sola
ranura
para echar las monedas de la noche.

Oh pequeño
emperador sin orbe,
conquistador sin patria,
mínimo tigre de salón, nupcial
sultán del cielo
de las tejas eróticas,
el viento del amor
en la intemperie
reclamas
cuando pasas
y posas
cuatro pies delicados
en el suelo,
oliendo,
desconfiando
de todo lo terrestre,
porque todo
es inmundo
para el inmaculado pie del gato.

Oh fiera independiente
de la casa, arrogante
vestigio de la noche,
perezoso, gimnástico
y ajeno,
profundísimo gato,
policía secreta
de las habitaciones,
insignia
de un
desaparecido terciopelo,
seguramente no hay
enigma
en tu manera,
tal vez no eres misterio,
todo el mundo te sabe y perteneces
al habitante menos misterioso,
tal vez todos lo creen,
todos se creen dueños,
propietarios, tíos
de gatos, compañeros,
colegas,
discípulos o amigos
de su gato.

Yo no.
Yo no suscribo.
Yo no conozco al gato.
Todo lo sé, la vida y su archipiélago,
el mar y la ciudad incalculable,
la botánica,
el gineceo con sus extravíos,
el por y el menos de la matemática,
los embudos volcánicos del mundo,
la cáscara irreal del cocodrilo,
la bondad ignorada del bombero,
el atavismo azul del sacerdote,
pero no puedo descifrar un gato.
Mi razón resbaló en su indiferencia,
sus ojos tienen números de oro.

ODE AO GATO

Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.

Gostou do poema? Então que tal conhecer esta e outras obras completas de Pablo Neruda? Veja alguns dos livros publicados por ele:
Livro Odas Elementales

Livro somente disponível em espanhol

Sobre Pablo Neruda

Pablo Neruda foi um dos poetas mais influentes do século XX, conhecido por sua poesia apaixonada e engajada. Nascido no Chile em 1904 como Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, adotou o pseudônimo de Pablo Neruda em homenagem ao poeta tcheco Jan Neruda. Sua obra é marcada por uma profunda sensibilidade à condição humana, explorando temas como amor, natureza e justiça social. Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971 principalmente por sua obra “Canto Geral”, um épico que celebra a América Latina e suas lutas. Sua escrita é caracterizada por uma linguagem intensa e acessível, que ressoa com leitores de diversas culturas até os dias de hoje, consolidando-o como um ícone da literatura mundial.

Eu me apaixonei instantaneamente por este poema de Pablo Neruda, espero que você também tenha apreciado. Então aproveita que está por aqui e veja outros artigos. Você sabe quais foram os livros mais vendidos da história? Veja e lista aqui, e encontre sua próxima leitura. Abraços!